sexta-feira, 18 de março de 2016

Mulheres Negras no Rock n Roll (parte II) - Recomendações

Agora vamos as recomendações de bandas e artistas negras que fazem um trabalho excelente dentro do rock n' roll.


Tamar-Kali

A cantora americana que vem do Brooklyn já ta no mapa musical tem mais de dez anos, desde 2005 quando lançou seu EP Geechee Goddess Hardcore Warrior Soul mas como vocalista já deu suporte pra grupos como Fishbone e Outkast. Ela faz um som intenso e pesado beirando o metal alternativo, segundo ela suas inspirações musicais são muito variadas desde PJ Harvey até The Mars Volta passando por Grace Jones, Betty Davis e Deftones. Kali vem do nome do deus hindu da guerra e do poder, nome justificado na potencia do seu som, confiram ai:





Adiam Dymott 

A Adiam é de um país da África chamada Eritrea mas foi radicada na Suécia e lançou seu primeiro álbum em 2009, muito bem trabalhado, um passeio entre o rock de garagem e o indie, muitas vezes misturando os dois completamente. Se liga no som:


                                     


Honeychild Coleman

Honeychild Coleman é uma moça do Kentucky nos Estados Unidos que começou a carreira em 93 na cena underground de Nova York no metrô fazendo performances de freestyle e música eletrônica. Em 1998 ela fez a própria banda de alt-rock, compondo, cantando e tocando guitarra, além de organizar eventos alternativos de música. Ouçam com atenção: 





Kathy Foster


Provavelmente a garota mais respeitada e conhecida no cenário musical que aparece nessa lista (e olha que voce nem faz ideia de quem seja), a Kathy toca bateria no All Girl Summer Fun Band mas é conhecida mesmo como a baixista do The Thermals, que faz um pop punk muito bom na qual suas linhas de baixo se destacam demais, eu diria que é uma das melhores baixistas de punk que ja escutei, seu som é consistente, firme e selvagem. 




AJ Haynes

Uma das minhas principais apostas pra esse ano, que deve vir com um álbum iradíssimo são os Seratones, a banda da destruidora AJ Haynes com seu vocal delirante. O Seratones tem uma pegada meio vintage e ao mesmo tempo assimilaram um toque de modernidade indie como poucas bandas conseguem fazer ou manter na minha opinião e embora tenha pouco material disponível ainda já é um dos que considero mais promissores.




Por hoje é isso, se puderem deem joinha no video e adicionem aos favoritos na barrinha aqui embaixo (zoa rs). 
Abs, 
Jão. 

segunda-feira, 7 de março de 2016

Mulheres Negras no Rock n' Roll (Parte I) - Representatividade

Pense em rock n'roll.


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   Feche os olhos e deixe sua mente por alguns segundos soltar as imagens de pessoas que vem a sua cabeça quando voce pensa em rock n' roll.


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   Você pensou em varias pessoas.


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   Eram de 90 a 100 por cento homens.


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   E a não ser que voce tenha pensado no Hendrix botando fogo em uma guitarra, eram todos brancos.

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   Não minta pra mim, eu sei que voce viu a porra do Jim Morrison cantando perto ao microfone que esse era o fim, o Sid Vicious suado e sem camisa enganando umas notas no baixo, o John Lennon dizendo aquilo que realmente acreditava ou o Kurt Cobain cantando no unplugged mais famoso da história.

   Ainda que não, voce inevitavelmente pensou no ponto chave de todas essas imagens: um homem branco empunhando seu instrumento, sua arma, no que pode ser considerado o gênero mais rebelde do mundo.

   E mais controverso também, afinal, como pode a pura rebeldia juvenil quase não englobar mulheres e quando engloba-las serem majoritariamente brancas? Um genero famoso pela subversão de padrões tradicionais não englobar as que são mais afetadas por eles?

   Voce pode lembrar da Joan Jett e das Runaways, da Debbie Harry do Blondie, da Patti Smith, da Kim Deal do Pixies, da Kim Gordon do Sonic Youth, da Courtney Love do Hole ou até mesmo de todo movimento Riot Grrrl da década de 90.

   E pasmem, nenhuma mulher negra, todas brancas. A maioria inclusive com pensamentos políticos bem definidos e fundamentados, sendo sexualizadas pela mídia de maneira a mascarar qualquer vestígio de sua ideologia que luta pela sua liberdade e equidade.

   Existiu até uma dupla pop chamada Os Mulheres Negras formada por dois homens. Parece cômico o nome? Por que foi colocado nas nossas mentes que é engraçado um grupo chamado Mulheres Negras? A gente riria de uma dupla de mulheres chamada Os Caras Brancos? Por que o humor vai pra uma via só?

Tamar Kali

   As mulheres negras mesmo não aparecem, tendo que encarar ainda mais carga de opressões sociais que um negro ou uma mulher branca, elas simplesmente não aparecem. Voce pode pensar ainda algo do tipo "Mas o rock nasceu na Inglaterra e era predominantemente de caras brancos, o que se pode fazer? É um gênero musical e não um instrumento político, se uma mulher negra quer toca-lo basta fazer uma banda, ninguém ta impedindo nada"

   Galera, ta na hora de começar a perceber que a cultura, seja em sua maneira de distribuição, propagação, mensagem passada, representatividade, tem um fundo político e ideológico mesmo que isso aparentemente não esteja claro. Nela estão entranhados os costumes e ideias de um povo e que servem de base para sua maneira de pensar e ser: a vida imita a arte e vice versa.

   A maneira do mundo ocidental pensar é clara (literal e figurativamente) em uma sociedade que o racismo era fortemente presente (e ainda é) como os Estados Unidos dos anos 50, quando seria meio obvio presumir que não deixariam passar que quem criou o rock em seu jeito primordial, uma aceleração do blues já eletrizado das grandes cidades, foi justamente uma mulher negra: Rosetta Tharpe que tem na música "Strange Things Happen Everyday" o que é considerada a primeira gravação de rock n' roll seja pela potencia de sua voz seja pelo seu modo de tocar guitarra com uma técnica diferenciada esbanjando inovação pra época.

Sister Rosetta Tharpe

  Irmã ou Mama Rosetta Tharpe já que era uma cantora de música gospel e nada tinha de rebeldia em seus posicionamentos ou atitudes agressivas que se tornariam típicas de astros do estilo anos mais tarde. Nada além do fato de ser uma mulher negra pioneira de um estilo musical tocando em salões de baile e clubes noturnos em Nova York (na década de 50!) e isso é MUITA coisa, um ato político de peso maior que muito marmanjo quebrando a guitarra no palco.

   O posto de "criador" do rock n' roll passou logo pra Chuck Berry e depois pra Elvis, algo bem simbólico: a mulher negra que perde espaço pro homem, e este sendo negro, perde espaço pro homem branco. Claro que qualquer um com um pouco de pesquisa e conhecimento da causa sabe muito bem que Elvis não criou nada, e que Chuck só tornou ainda mais agressivo o que Mama Rosetta estava fazendo, porém ainda tem muita gente que acredita que Elvis Presley realmente criou o rock.

   A partir de agora em um universo paralelo eu começo a escrever sobre as varias mulheres negras que tiveram destaque nesse estilo de música e os movimentos na qual fizeram parte mas como isso (ainda) não aconteceu eu vou, antes de mostrar algumas das moças que estão dando duro por ai fazendo um som pesado, falar porque isso é importante. Leiam com atenção ein.

Arte de Jorge Santiago Jr. - Afropunk Girl
 
   Primeiro: nós vivemos em uma sociedade racista e sexista.

   Não adianta tu espernear, compartilhar aquela merda daquele video estupido do Morgan Freeman ou dizer que homens que fazem trabalhos pesados ou tem alistamento obrigatório, nem começa a usar a palavra reverso pra desmerecer os movimentos. Não da pra voce lutar de maneira (racional) contra fatos e dados. Mulheres tem salários menores que homens, mulheres negras menores ainda, isso quando chegam a ocupar os mesmos cargos. Mulheres são agredidas, sofrem assédios e abusos físicos e psicológicos todo dia, mulheres negras ainda mais. E uma serie de outros fatores que colocam na posição de oprimido um grupo de pessoas pelo sexo ou pela cor, eu não vou me dar o trabalho de colocar aqui os dados porque voce pode simplesmente jogar isso no famoso google e encontrar as respostas por si mesmo.

   Segundo: porque representatividade é mudança.




   É possível ver hoje dentro de movimentos sociais muita gente criticando o que chamamos de empoderamento e representatividade pelo fato disso não causar uma mudança real nas condições sociais da nossa desequilibrada sociedade, só colocando alguém que veio da base na posição de alguém rico e que contribui pra que esse desequilíbrio se perpetue. Ora, vamos começar que presumir que algum movimento real acha que vai modificar algo somente com representatividade e só tem como pauta tal coisa é de uma prepotência enorme, isso nem ao menos poderia ser chamado de movimento se assim fosse.


   Por fim, voce pode ainda não ver importância de representatividade da sua posição de articulador social de classe média (não que voce não tenha que lutar claro ou ainda não tenha problemas sociais) mas imagina o que se passa na cabeça de uma menina negra, uma menina negra de periferia que por algum motivo fugiu um pouco do padrão musical de seu meio e curte um rock. Ou uma menina preta que quer ser artista. Uma garota que é sexualizada desde cedo, que é coagida a tentar chamar o menos de atenção possível fora do seu ambiente rotineiro por ser simplesmente quem é e porque isso pode gerar problema. Uma pessoa que provavelmente crescerá com traumas e crises. Eu acredito que baste um pouco de empatia, só um pouco pra perceber o quanto a figura de alguém que voce se identifique em um palco pode ser o estimulo necessário pra seguir mais um dia com um pouco mais de confiança, um pouco mais feliz pra quem achava que essa representatividade nunca ia ter e tem na vida tantos problemas.

   Nós temos que mudar as coisas sim, lutar pra que mudem. Mas não da pro lado da moeda que tenta mudar o cenário que temos esquecer também que somos seres humanos, e por isso não quero dizer que somos socialmente todos iguais mas que temos psicológico e fortalecer a luta as vezes deve ser fortalecer aqueles que a farão. Voce consegue cumprir seus deveres para com a busca por um mundo melhor estando desacreditado na vida? Pois é, ninguém. As vezes isso representa um pouco de fé pra quem não tem quase nada, ou melhor, pra quem mesmo antes de nascer lhe foi tirado muito.




E pra alguém que acredita na cultura como grande mobilizador social mais até do que isso.


João Carlos Pinho.