quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O Melhor Que O Mundo Tem a Oferecer

Dentro da sociologia muito se fala de melhorias sociais pautadas na atuação política. Inúmeros argumentos e fatos da historia humana provam que essa é realmente a forma necessária para que uma mudança positiva ocorra e isso já é encarado como uma verdade, o que varia é o que se considera forma de fazer politica.

Enquanto para a maioria da população isso está limitado a votar em um bom candidato a um cargo político, movimentos sociais pregam uma participação ativa nessa politica, acompanhando, formando opinião e se organizando para garantir que o dono desses cargos cumpram com o melhor para o povo. Somos o chefe.

Nesse meio no entanto quase nunca se percebe o valor da cultura. A cultura é um bem de valor inestimável e não só em escala nacional mas também em escala individual, vemos isso claramente pela diferença que é consumida e pelas possibilidades de acesso a ela das classes mais pobres e das mais ricas. 

Em um contexto de Brasil se tem claramente uma hegemonia cultural Euro-Estado Unidense: a música que a massa consome é pop americana e inglesa (mesmo que neste caso também atribuamos um grande valor a nossos próprios estilos), os filmes que vemos vem de Hollywood, os livros que lemos (e quando lemos) e as artes plásticas que as classes baixas não tem acesso são em grande maioria europeias. 

Mais do que isso, elas mostram a realidade desses lugares (somente a parte indiscutivelmente boa) e a todo momento nos doutrinam a pensar da mesma forma e a tentar ser o que eles são. Nós caímos como patinhos.

Se alguém te dissesse que vai procurar na internet um filme indiano para baixar voce ia no mínimo achar um fato curioso ou associar isso ao status cult de sua colega mesmo que sim, a Índia seja o país maior produtor de filmes no mundo disparado. Você talvez nem soubesse disso até agora. 

Podemos ir além. Nigéria, sim, aquele pais pobre de tamanho, lingua, localização (hurr durr África) e por fim cultura que voce nem conhece, que na sua cabeça é somente mais um dado geográfico, é uma enorme produtora de filmes e pasmem, inclusive maior e por muitas vezes de mais qualidade que a nossa querida nação. 

Nossa nação de grandeza continental em que seu próprio cidadão conhece mais de Nova York do que das tradições populares da região Norte. 

E não confunda valorizar o que enxergamos normalmente como arte exótica com tirar o valor do que nós é mostrado desde sempre (em um mundo globalizado a palavra exótica nem deveria mais existir). Tem sim obras e tradições interessantíssimas na Europa e nos EUA mas hierarquizar a cultura global e colocar a desses lugares no topo é se limitar, inferiorizar e isso parte claramente de um jogo político. 

Com sentido ao menos de valorizar nossas próprias raízes devíamos saber mais sobre os escravizados trazidos da África e os indígenas dominados em suas próprias terras. 

África. Território gigantesco. Um continente maior que o nosso. Pluralidade cultural quase incalculável. E no entanto de lá eles vieram, da África, da mesma forma que voce brasileiro veio da América e eu posso classificar você culturalmente igual a um mexicano ou peruano. Todos americanos certo? E indígenas também, vivem no mesmo continente então portanto, indígenas, mesmo que isso englobe milhares de sociedades. 

Completo estereotipo. O pouco que conhecemos de suas tradições são estereótipos. Chegamos a pressupostos falhos absurdos: "A filosofia nasceu na Grécia." (Toda sociedade tem propensão a desenvolver filosofia. TODA) "Índios vivem no mato e caçam." "Não tem conhecimento científico." Mesmo que para qualquer um que pesquise um pouco saiba que recentemente catalogaram 500 ervas medicinais e suas propriedades para o governo, algumas que os cientistas não fazem ideia de como tem o efeito que tem.

Imagine quantas obras e ideias geniais tem no mundo todo que nunca serão descobertas na escala global que a tecnologia nos permite, quantos tesouros perdidos. 

Perdidos não. A internet nos possibilita ter acesso a muitos deles mas a hegemonia é tão grande que nos contentamos com ela e não adquirimos o habito de caça-los. Eles não precisam limitar diretamente nosso acesso a isso porque a gente simplesmente não vai procurar, estamos confortados nessa zona. A banalidade do mal em escala cultural diria Hannah Arendt.

Pois bem, um conceito chave cada vez mais empregado é desconstrução, devemos desconstruir preconceitos para sermos pessoas melhores e formamos um coletivo melhor. Da mesma forma devemos desconstruir as hierarquias culturais. E isso não significa somente perceber que elas existem, mas quebra-las.

Não da para esperar que alguém pobre e que não tem conhecimento social acadêmico minimamente razoável possa sair por ai pesquisando sobre as tribos aborígenes  australianas. Mas e você que tem noção disso? 

Não pense nessa proposta como um dever a se assumir. Da mesma forma que consumimos diversos materiais que nos impressionam, levam a reflexão e/ou provocam sentimentos intensos, fatalmente acharemos algumas manifestações no mundo além do eixo que nos encantarão. 
A ideia é tornar o acesso informação e a cultura que não aproveitamos normalmente além de uma fonte de prazer ímpar e acréscimo a nós como seres humanos, uma atitude política anti hegemônica.

Procure sobre a música e a arte dos povos africanos, dos povos da América Central e do Sul, da América Central e do Sul, da China e do Japão, seu único limitador é o mundo, desconstrua o padrão social que esta dentro de você e te limita, ao mesmo que acrescenta a si aquilo que só tem a te acrescentar mais: cultura, a universal cultura, comum a todos os povos mas preservando o maior bem dentre as nossas singularidades humanas: a diversidade.