sábado, 11 de abril de 2015

O Novo "Velho" Rumo da Música Brasileira: É Proibido Proibir!

   Criolo Doido e O Terno. Um rapper e uma banda de rock. O que tem em comum? Bom, ambos tem dois álbuns de estúdio e também farão shows no Circo Voador nos próximos meses, mas além disso eles são mais uma evidência dos rumos que a música do nosso país está tomando.

   Um rapper e uma banda de rock. 

   E ambos colocando em músicas toques jazzsisticos típicos da bossa nova. Fazendo não só aquilo que os encaixa em seu respectivo estilo mas também tocando músicas de raiz tipicamente daqui. Fazendo letras que ao mesmo criticas, tem toques de ironia e não se prendem aos clichês de se fazer uma crítica vaga só por mostrar espirito de revolta. Tudo com fundamento. E ainda sim, tudo meio misturado, sem se prender.

Criolo viajando no som.

   No novo álbum do Criolo, Convoque seu Buda, podemos encontrar um samba típico (ele
não era rapper?) chamado "Fermento pra Massa" com um refrão irreverente que relata uma situação totalmente atual. Nesse mesmo álbum pode-se ouvir "Cartão de Visita" uma soulzinho bem bem pop (ele não era rapper? 2) que canta com Tulipa Ruiz e naquele mesmo esquema da irreverência mostra algo que faz parte da presente realidade do país. 

   Bom, ele não fica só nessa de algo descontraído claro e faz uma músicas mais sérias como as sensacionais "Esquiva da Esgrima" e "Plano de Voo", mas o importante é destacar a variedade das músicas e como elas pegam, na maioria, elementos musicais tipicamente brasileiros e fazem eles soar atuais, tanto nas letras como na sonoridade.

   A regra é não ter regra.


   E isso não te soa familiar? 

   Sim, essa não é uma novidade na música brasileira, na verdade no fim da década de 60, uns maluco doido (não da Cone) estavam contrariando os conservadores da mpb (olha que atual) e revolucionando ela própria com base nessa regrinha, no que se chamou Tropicalismo. 

Precursores da variedade. Gil, Gal e Caê. Tropicalistas.
   E influenciados massivamente por esse movimento, inclusive tendo gravado com um dos principais nomes dele (Tom Zé), O Terno vem conquistando cada vez mais e mais público com a genialidade dos seus dois álbuns lançados, 66 e O Terno.

  A própria música 66 é uma pérola inovadora sobre as dificuldades de ser inovador hoje em dia. E o primeiro álbum segue com um rock bem sessentista, riffs de guitarra sujos e psicodelia de quem claramente ouviu (e MUITO) Os Mutantes. 

O Terno sempre irreverente.
  Apesar de tudo o álbum não pode ser considerado parte da identidade da banda, já que metade das músicas são compostas pelo pai de Tim Bernardes (vocalista e guitarrista) que é um cara doidão que toca sax numa dupla mais doida ainda chamada Mulheres Negras e por ser mais uma especie de tributo a música daquela época.

   Agora o álbum homônimo sim, e que álbum meus amigos. Que variedade.

  "O Cinza" começa com um riff cheio de fuzz, que lembra muito das novas bandas de Blues Rock e depois entra uma harmonia que é a cara do Clube da Esquina. "Ai, ai, como eu me iludo", "Eu confesso" e "Eu vou ter saudades" são três baladinhas gostosas demais pra relaxar e ainda sim não chegam a ser bobas. "Brazil" tem uma letra excelente que brinca com o estereótipo do nosso país e tem uma harmonia muito legal com toques psicodélicos sombrios se alternando com uma calmaria boa. Ainda destaco "Quando Estamos Ainda Dormindo" e "Desaparecido".

   A moral disso tudo é mostrar que a música brasileira está tendo uma onda muito boa de artistas se apropriando de elementos dela própria e pela nossa imensa variedade musical tentam (e conseguem muitas vezes) criar uma sonoridade singular em contrapartida a um monte de artistas totalmente iguais que ficam numa mesmice irritante (muito da nova mpb, bleh).

  Além desses dois, outros como El Efecto, Mombojó, Mohandas, Juçara Marçal, Cidadão Instigado, Karina Buhr, Fino Coletivo, Tulipa Ruiz, Trupe Chá de Boldo, Cabruêra etc (eu provavelmente to esquecendo nomes importantes e tal, sempre acontece) seguem essa linha de não ter bem uma linha, desde que soe brasileiríssimo. Acho importante eu citar aqui o Zeca Baleiro, que embora mais renomado foi um dos caras que mais explorou os sons da nossa terra nesse século.

   Muita gente tá detesta Criolo e fica naquela de "modinha" e "isso não é rap de verdade" porque ele não para no estilo e porque as criticas não são sempre duras e sérias como "o rap deve ser" ou (um pouco mais aceitável) não curtiu o segundo disco d'O Terno como curtiu o primeiro porque tá menos rock and roll, mais popular e com mais cara de mpb mesmo.

  Gente, expandam horizontes, o bom da música é que ela pode ser variada, você pode não gostar por diversos motivos de tal artista mas por isso? Ele está justamente enriquecendo seu som, mostrando sua capacidade imaginativa e valorizando aquilo que gosta e que diferentes lugares e culturas tem a oferecer.

  O melhor gênero do mundo é a diversidade e dela o Brasil é uma escola.

  Deem um chance.
 
  Abraços,
  Joca.