segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Por Que Wesley Safadão Se Tornou Cult?

De uns tempos pra cá, cada vez mais me incomoda uma tendência social de consumo de cultura que acaba por banaliza-la, tornar-la algo cômico criando uma imagem em cima de um artista por conta de sua origem.

Em meio a uma sociedade cheia de preconceitos, esse poderia ser só mais um que deveríamos problematizar e realmente é, a diferença é como a juventude de esquerda que deveria ser combativa contra isso não percebe como age dessa forma rotineiramente sem nem saber no que isso implica.

Há algum tempo atrás o funk carioca era odiado por um grupinho que curtia Rock Wins e promovia um odio a outros estilos, era a tendencia, hoje em dia uma boa parte desse publico ama funk. Até ai problema nenhum, gostos mudam, as pessoas percebem como não faz sentido odiar algo por odiar. 

Entretanto, criou-se uma cultura de um funk cômico, engraçado, apropriado por um público de classe media. O funk originalmente não era assim, apesar de sempre um estilo dançante e irreverente.

O que eu me pergunto é: ele se tornou assim por questões diversas ou primeiro ocorreu uma banalização dele e ele se adaptou a essa banalização para ter seu crescimento?

Uma comparação que pode ser esclarecedora é com a escola de comediantes negros que temos nos estados unidos. Essa nata que tem crescimento nos anos 80, uma época em que o racismo era descarado lá, não surgiu porque quiseram isso em primeiro momento. Eram pessoas que diariamente eram vitimas de racismo, as pessoas riam delas antes mesmo de se tornarem comediantes e justamente por isso se tornaram! 

As pessoas reagem de diferentes maneiras a opressão e enquanto algumas combatem ferrenhamente ela, outras tentam se adaptar. Essas pessoas viram no racismo como entretenimento para a classe media branca uma alternativa a vida de merda que o racismo estrutural os destinava.

Mas isso não se refere só a racismo, isso acontece com qualquer arte de origem em uma cultura depreciada. O Norte e o Nordeste com Wesley Safadão e outros que apesar de terem já uma imagem engraçada tem essa imagem reforçada por memes. Voce provavelmente já viu mais memes do Safadão do que ouviu musicas dele. A musica dele acaba sendo só mais uma parte da imagem que criamos em cima dele e não o foco. São como bobos da corte, vivem bem, ao lado dos reis e ainda sim são tratados como bobos.

Não to falando pra pararem de curtir o que realmente curtem mas só pra terem uma noção do contexto que aquilo ta sendo levado a voce, reparem nas origens daquela arte, repararem na sua posição social em relação a de quem a produz. Repararem se vocês curtem realmente aquilo ou se vocês curtem a imagem criada em torno daquilo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O Melhor Que O Mundo Tem a Oferecer

Dentro da sociologia muito se fala de melhorias sociais pautadas na atuação política. Inúmeros argumentos e fatos da historia humana provam que essa é realmente a forma necessária para que uma mudança positiva ocorra e isso já é encarado como uma verdade, o que varia é o que se considera forma de fazer politica.

Enquanto para a maioria da população isso está limitado a votar em um bom candidato a um cargo político, movimentos sociais pregam uma participação ativa nessa politica, acompanhando, formando opinião e se organizando para garantir que o dono desses cargos cumpram com o melhor para o povo. Somos o chefe.

Nesse meio no entanto quase nunca se percebe o valor da cultura. A cultura é um bem de valor inestimável e não só em escala nacional mas também em escala individual, vemos isso claramente pela diferença que é consumida e pelas possibilidades de acesso a ela das classes mais pobres e das mais ricas. 

Em um contexto de Brasil se tem claramente uma hegemonia cultural Euro-Estado Unidense: a música que a massa consome é pop americana e inglesa (mesmo que neste caso também atribuamos um grande valor a nossos próprios estilos), os filmes que vemos vem de Hollywood, os livros que lemos (e quando lemos) e as artes plásticas que as classes baixas não tem acesso são em grande maioria europeias. 

Mais do que isso, elas mostram a realidade desses lugares (somente a parte indiscutivelmente boa) e a todo momento nos doutrinam a pensar da mesma forma e a tentar ser o que eles são. Nós caímos como patinhos.

Se alguém te dissesse que vai procurar na internet um filme indiano para baixar voce ia no mínimo achar um fato curioso ou associar isso ao status cult de sua colega mesmo que sim, a Índia seja o país maior produtor de filmes no mundo disparado. Você talvez nem soubesse disso até agora. 

Podemos ir além. Nigéria, sim, aquele pais pobre de tamanho, lingua, localização (hurr durr África) e por fim cultura que voce nem conhece, que na sua cabeça é somente mais um dado geográfico, é uma enorme produtora de filmes e pasmem, inclusive maior e por muitas vezes de mais qualidade que a nossa querida nação. 

Nossa nação de grandeza continental em que seu próprio cidadão conhece mais de Nova York do que das tradições populares da região Norte. 

E não confunda valorizar o que enxergamos normalmente como arte exótica com tirar o valor do que nós é mostrado desde sempre (em um mundo globalizado a palavra exótica nem deveria mais existir). Tem sim obras e tradições interessantíssimas na Europa e nos EUA mas hierarquizar a cultura global e colocar a desses lugares no topo é se limitar, inferiorizar e isso parte claramente de um jogo político. 

Com sentido ao menos de valorizar nossas próprias raízes devíamos saber mais sobre os escravizados trazidos da África e os indígenas dominados em suas próprias terras. 

África. Território gigantesco. Um continente maior que o nosso. Pluralidade cultural quase incalculável. E no entanto de lá eles vieram, da África, da mesma forma que voce brasileiro veio da América e eu posso classificar você culturalmente igual a um mexicano ou peruano. Todos americanos certo? E indígenas também, vivem no mesmo continente então portanto, indígenas, mesmo que isso englobe milhares de sociedades. 

Completo estereotipo. O pouco que conhecemos de suas tradições são estereótipos. Chegamos a pressupostos falhos absurdos: "A filosofia nasceu na Grécia." (Toda sociedade tem propensão a desenvolver filosofia. TODA) "Índios vivem no mato e caçam." "Não tem conhecimento científico." Mesmo que para qualquer um que pesquise um pouco saiba que recentemente catalogaram 500 ervas medicinais e suas propriedades para o governo, algumas que os cientistas não fazem ideia de como tem o efeito que tem.

Imagine quantas obras e ideias geniais tem no mundo todo que nunca serão descobertas na escala global que a tecnologia nos permite, quantos tesouros perdidos. 

Perdidos não. A internet nos possibilita ter acesso a muitos deles mas a hegemonia é tão grande que nos contentamos com ela e não adquirimos o habito de caça-los. Eles não precisam limitar diretamente nosso acesso a isso porque a gente simplesmente não vai procurar, estamos confortados nessa zona. A banalidade do mal em escala cultural diria Hannah Arendt.

Pois bem, um conceito chave cada vez mais empregado é desconstrução, devemos desconstruir preconceitos para sermos pessoas melhores e formamos um coletivo melhor. Da mesma forma devemos desconstruir as hierarquias culturais. E isso não significa somente perceber que elas existem, mas quebra-las.

Não da para esperar que alguém pobre e que não tem conhecimento social acadêmico minimamente razoável possa sair por ai pesquisando sobre as tribos aborígenes  australianas. Mas e você que tem noção disso? 

Não pense nessa proposta como um dever a se assumir. Da mesma forma que consumimos diversos materiais que nos impressionam, levam a reflexão e/ou provocam sentimentos intensos, fatalmente acharemos algumas manifestações no mundo além do eixo que nos encantarão. 
A ideia é tornar o acesso informação e a cultura que não aproveitamos normalmente além de uma fonte de prazer ímpar e acréscimo a nós como seres humanos, uma atitude política anti hegemônica.

Procure sobre a música e a arte dos povos africanos, dos povos da América Central e do Sul, da América Central e do Sul, da China e do Japão, seu único limitador é o mundo, desconstrua o padrão social que esta dentro de você e te limita, ao mesmo que acrescenta a si aquilo que só tem a te acrescentar mais: cultura, a universal cultura, comum a todos os povos mas preservando o maior bem dentre as nossas singularidades humanas: a diversidade. 

sábado, 11 de abril de 2015

O Novo "Velho" Rumo da Música Brasileira: É Proibido Proibir!

   Criolo Doido e O Terno. Um rapper e uma banda de rock. O que tem em comum? Bom, ambos tem dois álbuns de estúdio e também farão shows no Circo Voador nos próximos meses, mas além disso eles são mais uma evidência dos rumos que a música do nosso país está tomando.

   Um rapper e uma banda de rock. 

   E ambos colocando em músicas toques jazzsisticos típicos da bossa nova. Fazendo não só aquilo que os encaixa em seu respectivo estilo mas também tocando músicas de raiz tipicamente daqui. Fazendo letras que ao mesmo criticas, tem toques de ironia e não se prendem aos clichês de se fazer uma crítica vaga só por mostrar espirito de revolta. Tudo com fundamento. E ainda sim, tudo meio misturado, sem se prender.

Criolo viajando no som.

   No novo álbum do Criolo, Convoque seu Buda, podemos encontrar um samba típico (ele
não era rapper?) chamado "Fermento pra Massa" com um refrão irreverente que relata uma situação totalmente atual. Nesse mesmo álbum pode-se ouvir "Cartão de Visita" uma soulzinho bem bem pop (ele não era rapper? 2) que canta com Tulipa Ruiz e naquele mesmo esquema da irreverência mostra algo que faz parte da presente realidade do país. 

   Bom, ele não fica só nessa de algo descontraído claro e faz uma músicas mais sérias como as sensacionais "Esquiva da Esgrima" e "Plano de Voo", mas o importante é destacar a variedade das músicas e como elas pegam, na maioria, elementos musicais tipicamente brasileiros e fazem eles soar atuais, tanto nas letras como na sonoridade.

   A regra é não ter regra.


   E isso não te soa familiar? 

   Sim, essa não é uma novidade na música brasileira, na verdade no fim da década de 60, uns maluco doido (não da Cone) estavam contrariando os conservadores da mpb (olha que atual) e revolucionando ela própria com base nessa regrinha, no que se chamou Tropicalismo. 

Precursores da variedade. Gil, Gal e Caê. Tropicalistas.
   E influenciados massivamente por esse movimento, inclusive tendo gravado com um dos principais nomes dele (Tom Zé), O Terno vem conquistando cada vez mais e mais público com a genialidade dos seus dois álbuns lançados, 66 e O Terno.

  A própria música 66 é uma pérola inovadora sobre as dificuldades de ser inovador hoje em dia. E o primeiro álbum segue com um rock bem sessentista, riffs de guitarra sujos e psicodelia de quem claramente ouviu (e MUITO) Os Mutantes. 

O Terno sempre irreverente.
  Apesar de tudo o álbum não pode ser considerado parte da identidade da banda, já que metade das músicas são compostas pelo pai de Tim Bernardes (vocalista e guitarrista) que é um cara doidão que toca sax numa dupla mais doida ainda chamada Mulheres Negras e por ser mais uma especie de tributo a música daquela época.

   Agora o álbum homônimo sim, e que álbum meus amigos. Que variedade.

  "O Cinza" começa com um riff cheio de fuzz, que lembra muito das novas bandas de Blues Rock e depois entra uma harmonia que é a cara do Clube da Esquina. "Ai, ai, como eu me iludo", "Eu confesso" e "Eu vou ter saudades" são três baladinhas gostosas demais pra relaxar e ainda sim não chegam a ser bobas. "Brazil" tem uma letra excelente que brinca com o estereótipo do nosso país e tem uma harmonia muito legal com toques psicodélicos sombrios se alternando com uma calmaria boa. Ainda destaco "Quando Estamos Ainda Dormindo" e "Desaparecido".

   A moral disso tudo é mostrar que a música brasileira está tendo uma onda muito boa de artistas se apropriando de elementos dela própria e pela nossa imensa variedade musical tentam (e conseguem muitas vezes) criar uma sonoridade singular em contrapartida a um monte de artistas totalmente iguais que ficam numa mesmice irritante (muito da nova mpb, bleh).

  Além desses dois, outros como El Efecto, Mombojó, Mohandas, Juçara Marçal, Cidadão Instigado, Karina Buhr, Fino Coletivo, Tulipa Ruiz, Trupe Chá de Boldo, Cabruêra etc (eu provavelmente to esquecendo nomes importantes e tal, sempre acontece) seguem essa linha de não ter bem uma linha, desde que soe brasileiríssimo. Acho importante eu citar aqui o Zeca Baleiro, que embora mais renomado foi um dos caras que mais explorou os sons da nossa terra nesse século.

   Muita gente tá detesta Criolo e fica naquela de "modinha" e "isso não é rap de verdade" porque ele não para no estilo e porque as criticas não são sempre duras e sérias como "o rap deve ser" ou (um pouco mais aceitável) não curtiu o segundo disco d'O Terno como curtiu o primeiro porque tá menos rock and roll, mais popular e com mais cara de mpb mesmo.

  Gente, expandam horizontes, o bom da música é que ela pode ser variada, você pode não gostar por diversos motivos de tal artista mas por isso? Ele está justamente enriquecendo seu som, mostrando sua capacidade imaginativa e valorizando aquilo que gosta e que diferentes lugares e culturas tem a oferecer.

  O melhor gênero do mundo é a diversidade e dela o Brasil é uma escola.

  Deem um chance.
 
  Abraços,
  Joca.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Ladies, Women and Girls! - O Feminismo no Rock N` Roll (parte II)

   Continuando aquela história de mulheres revoltadas mas dessa vez sem muita enrolação, eu vou recomendar umas bandas femininas pra ocês. Ta tudo baseado em gosto pessoal e eu tentei fugir mesmo do padrão e colocar umas bandas menos conhecidas e pá (é sempre bom ajudar a divulgar um trabalho desconhecido, são como tesouros perdidos). Enfim, aí vai:


7 Year Bitch

   Essa banda que surgiu em Seattle (anos 90 + seattle = grunge) é provavelmente uma das bandas femininas dessa época mais primorosas quanto a técnica musicalmente falando, mas claro sem perder a influência do punk e sua agressividade (eu enxergo até uma dose de metal alternativo nelas). Já me disseram que as músicas delas são muito iguais mas eu só concordo em partes. O segundo álbum delas, ¡Viva Zapata! é na minha opinião um dos melhores álbuns só tocado por mulheres e um clássico perdido daquela época.




Lunachicks

   Vindas de Nova York, The Lunachicks faz um dos punk rocks mais bem tocados que eu já ouvi. O som é muito massa com muita influência do punk old school (Ramones, MC5,Sex Pistols etc) flertando com o hardcore. O Binge and Purge é um dos melhores álbuns punk que já ouvi, sem brincadeira, a baterista manda muito puta que pariu, e junto com solos de guitarra, composições e vocal fazem dessa possivelmente minha banda feminina favorita.



La Luz

   Nem toda banda de mulheres precisa necessariamente ser agressiva pra ser boa e pensando nas pessoas que curtem um som mais leve ou pop to colocando essa banda sensacional aqui. Na real eu nem tenho muita informação delas porque elas tão começando mas são um quarteto de Seattle de música pop alternativa com influencias de surf music. (traduzindo tem uma guitarra alegrinha e um vocal/teclado/melodia meio psicodélica). Dançante :).



Bitch Alert

   Agora cometendo um pecado aqui e colocando uma banda que tem um homem. O nome do cara é Kimmo e ele faz parte desse trio finlandês que faz um rock alternativo mais emotivo com um vocal meio rasgado e com aquelas variações calmo/agressivo/calmo/agressivo. Provavelmente quem curte Nirvana e adjacências vai se amarrar nessa banda.



Sleater-Kinney

   Não poderia fazer essa postagem sem citar o maior nome da Riot Grrrl no mundo atualmente. Lançaram um álbum esse ano que está incrível! Sempre seguindo a linha do garage rock, marcadas pelos riffs de guitarras furiosos, conseguiram fazer um disco variado e complexo sem perder as raízes. Mas o álbum marcante é o Dig Me Out de 1997 que é um clássico dentro dessa cena, fazendo elas se destacarem em uma industria musical que passou a maior parte do tempo desprezando bandas femininas. O potencial do som da Sleater-Kinney é insano.



Por hoje é só pessoal.
Inté.
João.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Ladies, Women and Girls! - O Feminismo no Rock N` Roll (parte I)

   Depois de algum tempo sem postar devido a escola, carnaval e etecéteras, resolvi escrever sobre um movimento que considero muito importante seja em sentido musical seja em conteúdo político. É meio complicado falar sobre as Riot Grrrl sem acabar sendo clubista, afinal como acabei de falar é um movimento de bandas que tem uma posição política bem definida (que o título dessa postagem já entrega de bandeja) e que eu acho totalmente valido.

   Bom, a intenção disso aqui não é convencer ninguém de que essa é uma corrente que vale a pena ( é só que o blog é meu e posto o que quiser, simples assim), mas eu só espero realmente que não tenha ainda gente que discordando de certa vertente extrema do feminismo ou não, não entenda que o principio básico dele é a igualdade de gêneros e a valorização da mulher ( que é algo diferente da desvalorização do homem) e que isso é algo necessário. Se você ainda não vê isso, paciência, elas ainda vão estar ai fora chutando algumas bundas.


 
   Então, não tem como começar a falar de mulheres dominando o rock sem começar pelas The Runaways, elas são as "mães" de todas que vieram depois, as primeiras e possivelmente as mais famosas. Tudo começou em Los Angeles, da cabeça de Joan Jett (ela mesma) que queria formar uma banda só de garotas e assim conheceu Kim Fowley que aderiu a ideia, chamando pro conjunto a baterista Sandy West. Recrutaram a baixista Micki Steele e a compositora Kari Krome e ao final de 75 estava formada as Runaways. Depois a banda cresceu com a entrada da guitarrista solo Lita Ford e da cantora Cherrie Currie, e Steele deixou a banda sendo substituida por Jackie Fox.

   Já começaram quebrando a banca, tocando algo que se aproximava de Hard Rock e Punk, Cherry Bomb marcou por sua letra irreverente e considerada indecente. O impacto delas logo no primeiro álbum foi incrível e boa parte da critica como já esperado não levou a serio ou arranjou algum motivo pra criticar, mas quem liga?

 
   Depois disso varias outras mulheres que fizeram parte da historia da musica punk admitiram que elas deram forças e coragem para que outras bandas desse tipo começassem. Claro que antes já tinham existido mulheres icônicas no rock como as fantásticas Grace Slick e Janis Joplin, a jovem punk Poly Styrene do X-Ray Spex, a rainha do punk Patti Smith, a nossa musa brasileira Rita Lee e até uma banda só formada por mulheres que não teve muito sucesso chamada The Shaggs, mas o estilo agressivo das Runaways e fora dos padrões era até então único para um grupo de mulheres.

   A banda acabou no fim da década de 70 devia a problemas externos e internos (troca constante de membros e problema de identidade com o estilo da banda) e a década de 80 seguiu em geral meio capenga em relação a bandas que tivessem propostas parecidas a elas, não por conta de opressão ou algo do tipo mas a música tomava outros rumos com a popularização da música disco e do new wave. Estaria o punk morrendo e com ele a ação libertária feminina na música?! (Confira no próximo episódio) (Ta, parei)

   Entretanto, não podemos esquecer de algumas mulheres importantes dessa década por seu talento e postura, menção honrosa para as baixistas Kim Deal e Kim Gordon, do Pixies e do Sonic Youth respectivamente.

   Agora no inicio da década de 90 que as coisas esquentaram.O termo Riot Grrrl surgiu quando Allison Wolfe, da banda feminina Bratmobile, resolveu produzir uma fanzine (abreviação fanatic magazine pra quem não sabe, basicamente uma revista independente) em que se rebelava contra um machismo que dizia que garotas não sabiam tocar tão bem quanto homens. a partir dessa revista e da banda a qual a autora fazia parte e da banda também percursora do movimento Bikini Kill, surgia em Olympia, Washington, o movimento feminista dentro do rock.

   Elas pegaram os conceitos punks já existentes e juntaram com o feminismo: pra resumir elas eram porra loucas pra caralho e tavam cagando pra quem não estivesse com elas. Não faziam questão nenhuma de serem mostradas como bonitinhas ou comportadas, algumas se vestiam como homem, colocavam penteados diferentes ou raspavam a cabeça, usavam roupas masculinas e pregavam a liberdade sexual.

   Nos shows da Bikini Kill elas frequentemente mandavam os boyzinhos pras filas mais de trás pra dar as garotas melhores lugares para assistir aos shows, distribuíam panfletos com as letras em prol do feminismo. Kathleen Hanna usualmente também pintava o próprio corpo numa pratica muito comum hoje em protestos dessa ideologia, com palavras como SLUT (vagabunda) ou BITCH (puta).

   O movimento teve algumas bandas até aderindo ao seu som aquele tal de grunge que tava explodindo e até virou febre em outros países. (Aquela banda lá que invadiu uma igreja na Russia e foi presa, sabe? Pussy Riot, acho que nem preciso dizer nada) Bandas como Babes in Toyland, Le tigre, The Gits, as loiras do L7, 7 Year Bitch fizeram ele ser o que era. Hoje em dia tem várias bandas desse naipe espalhadas por ai, e quem anda na linha de frente são as americanas do Sleater-Kinney. ( <3 )

   No Brasil até surgiram bandas assim, geralmente voltadas pra algo mais hardcore, e usualmente com nomes muitos doidos como Menstruação Anarkika ou Kaos Klitoriano mas sendo sincero o som delas nunca me agradou muito e acho que tem como melhorar isso aí. Se você é feminista e música não sei o que ta esperando pra encontrar outras como você fazer uma banda, se você é só música ler um pouco sobre feminismo não faz mal a ninguém e se você é só feminista e não toca nada (ou quase nada rs) o punk é baseado na politica de "faça você mesmo"então tome coragem, pegue uma guitarra, um baixo ou uma bateria e imponha respeito. ;)

Ósculos
e amplexos,
João