terça-feira, 21 de outubro de 2014

Robyn Hitchcock, o homem que se inventou

   Conheci esse cara estranho e meio louco por meio de outro cara estranho e meio (completamente) louco. O nome desse outro é Syd Barrett, uma espécie de ídolo pra mim, o cara que compôs a maior parte do primeiro album do Pink Floyd e virou uma lenda da música underground, impulsionado por todo o folclore criado em cima dele e de sua esquizofrenia. Mas, voltando ao foco, eu tava pesquisando mais sobre o Syd e o material dele, o cara só deixou dois albuns solos que soam tristes pois envolto a sua incapacidade de interagir com outras pessoas normalmente, de tocar e de cantar tem poucos picos do seu brilhantismo.

   E eu tava louco pra achar qualquer coisa dele melhor gravada, ou algum artista que conseguisse tirar inspiração daquele pouco material e fazer algo naquela linha de música que eu gosto tanto, e bom, foi assim que conheci esse tal de Robyn Hitchcock.

   Li em algum lugar que era um cara que tinha se inspirado muito no Barrett e achei uns álbuns pra escutar e logo de cara escutei o que parecia mais atrativo e realmente o maior tesouro que esse cara já fez, um album chamado I Often Dream of Trains. E que álbum, meu amigo!
   Ele começa com um piano bizarramente sensacional de uma chamada Nocturne (Prelude). É daquelas músicas que você não consegue entender o porquê de ser tão curta.

   Depois vem Sometimes I Wish I Was a Pretty Girl (xD) onde começa a influência de Syd, com um violão forte, simples, um vocal totalmente despreocupado (que eu por algum motivo adoro e acho bem juvenil) e uma letra descontraída.

   Segue com Cathedral, que possui outro piano lindo como na primeira música, dessa vez acompanhado de um violão dedilhado também muito bonito. Eu comecei a perceber também que essas músicas mais melódicas deles têm um quê de alternativo dos anos 90/2000, como algo do Radiohead ou Coldplay ('-').

   Depois vem a Uncorrected Personality Traits, uma música somente vocal que me fez perceber que o album seria assim mesmo: se alternando entre lindas composições de piano e músicas mais experimentais e divertidas. É meio difícil de classificar, e eu nem gosto, mas é experimental, folk e também psicodélico, mas com um apelo pop justamente na linha do Barrett.

   O álbum pra mim não tem um ponto baixo, eu realmente gosto de todas (rs bomzaum cara), mas de positivos se destacam:

   Flavour of Light: o clima dessa é a tristeza em notas de piano que desabam como uma chuva suave sobre um som cortante de violino.

   This Could Be The Day: um folk pulsante e simples com uma gaita bem bluesy.
   Trams of Old London: tem um clima que me lembra um pouco Velvet (Underground), e também essa linha alternativa nos vocais melódicos.

   Autumm is Your Last Chance: com um dedilhado simples e hipnotizante, um dos melhores climas musicais que já ouvi.

   A própria I Often Dream of Trains (não vou falar mais que a melodia se destaca porque esse cara é mestre nisso): eu gosto da guitarra dessa.

   Mas como já disse, gosto do album todo, que soa ainda atual mesmo sendo de 84, uma das maiores pérolas da década de 80 de um artista subestimado e um dos meus compositores favoritos. A quem gosta de folk, teclados bonitos ou vocais pop de qualidade, ces não sabem o que estão perdendo 😉;)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A vida imita a arte e vice e versa: Futebol

(Fiz esse texto logo após o fim da copa de 2014 desse ano, é sobre futebol mas também sobre paixão, magia, fé, sentimento e explosão..)

   A copa esteve aqui e acabou. Vexames a parte, com a bola rolando jogos extraordinários aconteceram e dentro de campo foi inegavelmente uma excelente copa. Agora voltará o Brasileirão e a maioria dos que acompanham ou voltarão a reclamar do seu time ou, aqueles que estão com um time bem formado, reclamaram da qualidade de certos jogos, já que é também inegável que a qualidade do campeonato caiu. E não foi pouco.

   A Copa deixa como herança para os futebolistas do país um alerta e um fato, comprovado em um jogo por 7 partes: o futebol moderno se faz com conjunto, organização e preparo, e nesses quesitos nossa seleção precisa de uma renovação. Lutamos com o que tínhamos, vontade e fé, e embora desde o começo isso se mostrasse bem no limite do suficiente, o que poderia ser preocupante, nosso coração de torcedor como sempre acreditava que bastaria para terminar a copa no ponto mais alto, talvez com a ajuda do peso na camisa e a sorte que ele encaminha. Não bastou.

   O Brasileirão foi a escola desse lema, onde erguiam-se os pobres jogadores oprimidos nas brincadeiras de comentaristas com a falta de técnica de tal para a glória do gol decisivo, a artilharia suada ou a atuação coroada pela raça onde faltava habilidade. Vontade e fé. Raça que coloca na cara do torcedor um sorriso maior do que o que muitos habilidosos escudeiros consegue, talvez por beirar ao riso de alegria incrédula de ver aquele personagem que era improvável ou mesmo um jogador "ruim" garantir ao time aquilo que ele precisava.

   O futebol contemporâneo cada vez diminui isso. Cada vez mais os times, pelo menos os estrangeiros, até agora, treinam os fundamentos básicos e o jogo em equipe, a valorização da posse de bola dentre outros conceitos estrategicamente lógicos. Alguns dirão que eu me oponho a essa evolução do futebol, mas não é isso, quero eu mais do que muitos que o esporte evolua cada vez mais, tornando-se com o tempo mais competitivo e universal do que já é. Só não gostaria eu de ver essa fé ilógica que desce das arquibancadas e cria energia também ilógica nos pés de um dos 11 aos 45 do segundo tempo de um jogo que parecia perdido acabe. Que a raça que faz o mais folclórico dos jogadores se consagrar não morra. Que se os times que antes com essa organização eram pouca coisa ou quase nada, tiverem que decidir um jogo, que ele não seja decidido por um lance de sorte ou por um aproveitamento um pouco superior mas justamente por essa vontade.

   Afinal, é um pouco disso que faz o futebol se tornar algo mais mágico e menos real do que somente vinte e dois homens correndo atrás de uma bola. A bonita jogada seguida de gol será sempre bem vinda, mas não causará tanto furor quanto a entrega de quem nos olhos reflete a garra da corrida para a redonda que termina em carrinho para dentro das redes, do inalcançável gol chorado e sofrido do menos esperado guerreiro. "O futebol é a metáfora da vida". 

João Carlos